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(Re)Começo(s)


Este será um espaço de partilha(s) e reflexões. Minhas e vossas. Porque considero que só assim faz sentido, afinal a terapeuta que sou e continuarei a ser, somente pode existir com, e por vocês – crianças, adolescentes, jovens adultos e famílias.

O meu grande objetivo, com este blog, é criar reflexões que possibilitem (re)começo(s)… é escrever sobre as temáticas relacionadas com os vários momentos do desenvolvimento e criar pontes entre outros temas que considero relevantes e pertinentes no âmbito da saúde mental.


Na minha prática clínica utilizo uma metodologia centrada no paciente. As minhas técnicas são integrativas e sobretudo utilizadas no auxílio da expressão, do processamento e resolução de experiências que estejam a ser sentidas e vivenciadas.


Há muitos anos atrás, antes de me tornar psicóloga, li uma frase de Sigmund Freud, que me provocou um enorme eco interior “A infância é o pai do Homem”. Recordo-me de me debruçar sobre ela e questioná-la. Hoje em dia, já psicóloga e terapeuta infantojuvenil, considero-a uma das maiores verdades. A infância é uma espécie de casa onde habitam rostos, tempos, lugares e histórias. Onde habitam momentos que fazem perdurar memórias num tempo longínquo que será toda a nossa vida. Por vezes a casa aumenta, por vezes a casa diminui. Mas continua lá e faz parte de uma História. A pessoal. E de cada um.


Ter uma infância e uma adolescência é uma necessidade. É necessário ser-se criança e ser-se adolescente, implicando isto um tempo, e um espaço para ser-se. Um espaço potencial. Um encontro entre o ser-se e o conhecer-se. Caminhando de braços dados com a criatividade, esta aliada, tantas vezes, injustamente esquecida.


Pensar em infância na atualidade é por vezes sinónimo de não vivenciar este momento de vida, mas sim uma interpretação e representação do que será enquanto um projeto de adulto, sob a qual a criança se tornará. E isto, não é pensar a infância, é colocar a infância como um comboio a contraluz onde quem chegar primeiro, será melhor. O conceito de tempo, é perdido nas projeções de futuro, e quando se chegar ao futuro, este adulto lamentará o passado.

Por isto, e enquanto terapeuta infantojuvenil, promovo a ideia de que a infância e a adolescência, são momentos de descoberta e de (possível) encantamento pelo Mundo. Sem submissões, mas com as suas fragilidades. Tocar, ouvir, explorar, sentir, observar, e brincar, brincar muito. Experimentar e experienciar. Fazer sentir e fazer sentindo. Sem medos. Sem repressões. Transformando. Aceitando. Respeitando. Porque para existir um verdadeiro sentido de si, é preciso tudo isto. Uma liberdade com afeto e com limites, porque amar também é isto.


É fundamental não subtrair a sua singularidade, individualidade, muito menos renunciar ao seu ritmo, curiosidade, criatividade, desejo, autorregulação. Fazer o contrário, é irromper o potencial que cada criança e adolescente tem em si mesmo. E é imenso, acreditem, é a capacidade de verem para além de (…) pela incrível e ingénua capacidade de imaginação, muito mais desenvolvida que, por nós adultos “as pessoas crescidas nunca entendem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo”. Mas elas falam. Na sua linguagem mais original. E eu, enquanto terapeuta estou presente para contribuir para o seu crescimento harmonioso, ajudando-as a encontrar as partes “perdidas”, e que as estão a afetar no uso pleno e gozoso dos seus sentidos, corpo, intelecto e na expressão das suas emoções e sentimentos. Juntos, nesta espécie de dança, que ora começo eu, ora começam eles. Com as necessidades especiais quer da criança, quer dos adolescentes que acompanho, que sem saberem, estão ansiosos por se conhecerem, dando um maior sentido a si próprios.


É importante evocar um olhar mais atento para percebemos que os comportamentos das crianças e dos adolescentes, nos comunicam o seu sofrimento e a sua dor mental sob a forma de sintomas. Que estes sinais e sintomas (birras, agressividade, medos, apatia, baixa autoestima, choro, dificuldades escolares…), não sejam desvalorizados pois eles edificam “casas” num constante desenvolvimento da vida psíquica.


Afinal como disse, Gaston Bachelard em A Poética do Devaneio (1988) “a infância permanece em nós como um princípio de vida profunda, da vida sempre relacionada com as possibilidades de recomeçar”, e não fosse isto a maior verdade.


 

Até já,

V.

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