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  • Foto do escritorV.

Sociedade Medí-Ocre.

Vivemos numa sociedade medíocre, onde ninguém sabe quem é, e são poucos os que se preocupam com tal processo. Parecemos seres inócuos, tornando-nos seres reprodutores. De vida e de modas. Produtos manufacturados onde ganha quem tiver mais e melhor. Sem se saber mais, “não é relevante”. Vivemos em regras que não se podem questionar. São aceites, porque sim. não falo de leis. Essas também, mas surpreendem-me mais as regras. Existem juízos morais entre o que está verdadeiramente certo, e o que está verdadeiramente errado. Moralidades!


O importante é não questionar, é viver, sobrevivendo. Trabalhar, para se ter, não para se ser. Ser-se sem fios. Sim porque estar ligado e entrelaçado é coisa do passado. Nas tecnologias e nas relações. Nas pessoas e na vida. Wi-Fi.! Esquecemos-nos é que a liberdade, essa que tanto prezamos, é presa em cada um de nós assim que nascemos. Tornamos-nos o que querem que nos tornemos. Já não é Wi-Fi. Se não é sem fios, não é liberdade, ou existe lá liberdade assim?! Já imagino o Descartes, o Nietzsche, o Kant, o Sartre, o Jung, o Marx (…), todos juntos, em estilo Woody Allen chateando com os efeitos de umas ervas no meio da natureza Wi-Fi.


Talvez ficassem tão alienados, como nós. Ficassem tão cegos que os seus pensamentos não seriam questionamentos frutos de reflexão. Hoje em dia muitos de nós estão incapazes de ver o que realmente acontece. É tudo desenfreado. Um baby-boom societário de produtos manufaturados globalizados na linha capitalizável. Que sejam rapidamente convertidos no caviar da tecnologia. Um escândalo mediático, já não escandaliza. Aceita-se. Fala-se. E, depois morre. É um tempo com novos ponteiros, passa-se tudo demasiado rápido. E, assim é que é bom. Não nos deixa tempo para a reflexão. Para um “Quem sou eu?”, “O que faço aqui?”. E os que evoluem assim, rapidamente são colocados à margem. Demasiado intelecto. Ou demasiado aborrecimento. O que importa é o que se chama PODER. Dê o PODRE, por onde (PO)DER.


Mas a mim preocupa-me a evolução psíquica. O ser humano. As pessoas. As relações. Deixo a sociedade para a sociologia. Ou para a politica. (…). Mas, questiono-me algumas vezes, ou demasiadas, “Mas afinal o que é isto da liberdade? Um direito? Um dever? Autonomia? Independência? Livre arbítrio? Libertinagem? Ser-se quem se é? Etimologicamente, e bem falando, liberdade vem do latim e significa libertas, (-atis).


Em países, como o nosso, onde se viveram anos de ditadura, o sabor da liberdade vem das pequenas e mais simples coisas, como escrever o que se quer, ir-se onde se quer, e andar-se como se quer. Cantar como se imagina, viver como e com quem se quer, e falar o que se pensa. Mas não será isto ainda tão redutor, face aquilo que realmente queremos ser? Sem dúvida que calarem-nos os nossos pensamentos deve ser a mais dura ideia de que o ser humano, ser racional, se deve habituar. Mas, e calarem-nos os nossos sentimentos e emoções? Já é aceite? Já não doí tanto? Irrita-me, desculpem. Por mais cientifica(dutora) que a psicologia se torne, a realidade é que isso é coisa de terceiro nível. É do submundo. É coisa superficial e epidérmica que não importa. (falarei sobre isto talvez num outro texto…). Aí liberdade! Por que encruzilhadas te(nos) colocas? Ou seremos nós a colocar-te?


Assim sendo, a liberdade é então a sensação de se estar livre e não depender de nada, nem ninguém. SÓ da sociedade. SÓ. Dessa não há como escapulir. Ou somos marginalizados. É agir sob o nosso POSSÍVEL livre arbítrio e de acordo com a() nossa(s) própria (s) vontade(s), DESDE que não prejudiquem a outro ser HUMANO, não é vivo, é Humano. Redutor não? E nós próprios onde ficamos? (...)


Ao trabalhar com crianças, vejo isto todos os dias. Ao longo da nossa infância a nossa liberdade é constantemente testada. Desafiada. Expandida. Somos quem querem que sejamos. A liberdade da criança, é vista sob a forma de escolhas. Sim, os mais pequenos podem ser estimulados a exercitar o livre-arbítrio da escolha, mas isso não significa liberdade. Afinal, o ego da criança sente-se gratificado porque é livre para escolher, mas nem sempre isso significa o que a criança quer, na medida em que a vontade da criança é limitada por vários factores – desejo de agradar, de entrar em conflito, de ser aceite (…) limitando-se assim por hábitos, disponibilidades, condicionalismos, pressões (…) E, por isso chegam adolescentes com ideias revolucionárias e iludidas de liberdade, confundindo-a com libertinagem. Vivem com a ilusão de possuir um auto-domínio e livre arbítrio, maior do que eles próprio. Porquê? Ou para quê? Não sabem, muitas das vezes. Mas psicologicamente não é verdadeiro, e por isso adolescentes e jovens adultos caem em círculos viciosos, auto-enganadores de quem são, quem querem ser, para o que são, ou o que irão ser. Iniciei este texto precisamente a colocar em causa as limitações externas da liberdade, e como me parecem tão ilusórias na sociedade e naquilo que somos.


Mas termino, com o facto de que a para além da autoridade externa e regulatória da nossa liberdade, existe uma dependência interna que nos escraviza ainda mais. Levando o nosso espaço e nosso tempo. E, muitas vezes quem somos. A nossa estrutura psíquica e interna com as nossas luzes e as nossas sombras, carece de SELF. De sermos nós. aceitando-nos quem somos. Melhor seria dando-nos liberdade para o(s) erro(s), para não o(s) cometer(mos) mais. Para não dar lugar à autocrítica. Mas para uma amizade connosco próprios, sabendo quem somos e quem queremos ser, em liberdade. Com quem queremos construir e estar, em liberdade. Sem condicionalismos. Reduzindo o livre-arbítrio do ego.


Não sei para onde estamos a caminhar. Nem onde acabaremos WI-Fizados, mas espero que no meio de tantas situações ainda existam conexões possíveis e que ninguém se sinta excluído ou ostracizado, por não ser quem deveria ser. Mas por ser quem quer ser. Com essa liberdade. Sonhadora. Artística. Imagética. É necessária uma auto-estima à prova de egos e de poderes. Numa sociedade de iniquidades onde não se tem tempo para as auto-estimas. Nem para se conhecer o outro. Não há espaço para essas liberdades. Contudo há ainda quem tenha tempo para elas. Andamos sempre às voltas no nosso processo de desenvolvimento. todavia, que estas sejam para nos aproximarmos cada vez mais de quem somos. Do ponto central da nossa vida psíquica. Como psicóloga não quero tratar. Quero fazer chegar lá, à liberdade, à plenitude, ao propósito de cada um, para ser quem quer ser.


 

Até breve,

V.


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