Há quem diga que 2020 foi um ano para esquecer... discordo. Tal como na vida existem sempre momentos, períodos e/ou fases mais difíceis e não é por elas existirem que NÓS deixamos de existir ou de deixar de ser.
O ser humano com a sua sempre teimosa tendência hedonista de querer apenas aproveitar o melhor que a vida tem, numa filosofia Carpe Diem... mas a vida também se revela des- prazerosa, não fosse o sonho o contrabalançar entre a vida e a morte. O limiar do pensamento e da acção. A viagem.
Uma viagem acorrentada pela liberdade de podermos ser o que queremos ser (pelo menos no país em que vivemos) da maneira que entendermos e sentimos querer ser.
Mas depois vem a incompletude da vida.
A paixão, a alquimia, a palavra e a perturbação. As flores e os peixes. A noite e o dia. Os meses e as estações. O vento e a água. O fogo e o ar. O hemisfério e o horizonte. A janela e a porta. A vida e a tensão. O cheiro e o frenesim. O andar e o acolher. O ruido e o silencio. o ficar só.
A incompletude da vida.
Pessoas iguais, pessoas diferentes. Mesmos lugares, mesmos cronómetros. Os mesmos sonhos, atravessados frente a frente como erros de Eros ou de Tanatos. Cronos sabia que os dias iguais, nunca são idênticos (...) são e serão sempre menos tempo, essa entidade que o humano almeja derrotar, mas que se deixa derradeiramente vencer.
É a incompletude da vida.
A saudade e o devaneio de quem já não sabe onde começa e por onde se finda. É o peso do mistério. São os descobrimentos e a essência iluminista de quem se crê melhor. Invencível. Duro. Triste e só.
Uma vaga absurda. Uma pandemia escura. Um país que pertence a um mundo desconhecido que nos faz vivenciar abismos desconectados de ligações suspensas e imersas.
Não fosse o sonho e a liberdade que doí sob a intervenção de um tempo que não para uma miragem de morte assustada. A vida em acusação. Ou apenas combustão.
A incompletude da vida.
Os dias parecem iguais, mas não são. temos o dever de festejar a vida, aquela por quem aparentemente lutamos. Ignorados aqueles por quem se sentem em missão. A missão de continuar sem certezas, mas com convicções, valores e amor.
É esta a incompletude da vida.
Viver sem razão. Quando nascemos num mundo desenlutado por si próprio. Bipartidário, na sua forma de ver, criando esta tragédia catastrófica que é senão mais, o menos.
Pablo Picasso, Two women running on the beach.
Até breve,
V.
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